SOCIOPATA
Distúrbio de Personalidade Dissocial (“sociopatia”)
Chamado,
pelo autores franceses, de "insanité sans délire" (insanidade sem
delírio) ou, pelos alemães, de "insanidade moral". O termo descreve
indivíduos com marcado egocentrismo que não têm deferência normal pelas
outras pessoas, manipulando-as, como quer seja necessário, para atingir
seus objetivos. Suas armas são o charme, a sedução, a intimidação e a
violência, usadas, assim, progressivamente, de modo cada vez menos
sutil, no caso de as outras pessoas não se comportarem da maneira como o
sociopata quer.
Existem graus muito variados de distúrbio de
personalidade, que vão desde a pessoa considerada apenas "chata",
"inconveniente", "patologicamente egocêntrica", até os casos de
matadores e estupradores em série, passando por viciados, traficantes e
seqüestradores, todos eles muito pouco preocupados com o bem-estar da
sociedade.
Algumas pessoas consideram, erroneamente, o
distúrbio de personalidade dissocial apenas como doença, quando, na
verdade, nada é, também, mais próximo do conceito mais puro de "crime",
pois o sociopata tem plena consciência e entendimento dos erros que
comete. Existe, atualmente, um movimento nos meios jurídicos da
Inglaterra no sentido de enfatizar o dano à sociedade que é tolerar
esses indivíduos anormais, mesmo nos casos, muito freqüentes, em que a
Justiça ainda não consegue caracterizar, formalmente, seus crimes e
comportamento habitual altamente lesivo aos demais (Kendell RE, 2002).
Os sociopatas portadores de distúrbio de
personalidade dissocial (freqüentemente chamados de "psicopatas", em
sentido estreito) são exímios simuladores e manipuladores, conseguindo
enganar mesmo alguns dos melhores peritos e escapar de promotores e
juízes severos.
Os manicômios judiciários estão repletos de
pessoas absolutamente normais, que, em uma circunstância severamente
crítica, cometeram algum crime do qual realmente se arrependem. Enquanto
isso, a sociedade convive com sociopatas muito graves que, usando de
sua inteligência e manipulação, galgam, por exemplo, cargos públicos e
profissões as quais nunca poderiam exercer (incluem-se advogados,
juízes, promotores, médicos e professores de medicina).
Os casos extraordinários, noticiados pela
mídia, de sociopatas assassinos e/ou estupradores em série são apenas "a
ponta de um iceberg" que perpassa toda a sociedade. Há sociopatas de
graus variados de severidade e mesmo os mais graves, em muitos casos,
nunca serão "descobertos" (presos e/ou diagnosticados clinicamente).
Além do diagnóstico clínico, que deve ser
estabelecido por médico experiente, competente e idôneo, são observadas
alterações em exames subsidiários do cérebro, como tomografia por
emissão de pósitron (mais conhecida pela sigla "PET", do inglês
"Positron Emission Tomography") ou ressonância magnética nuclear
funcional (mais conhecida, mesmo em nosso meio, como "fNMRI" de
"Functional Nuclear Magnetic Ressonance Imaging") em cerca de dois
terços dos casos diagnosticados. Tratam-se dos chamados "exames
funcionais de imagem" da atividade do cérebro, dificilmente disponíveis
no Brasil e extremamente caros.
|
Tais exames de imagem mostram,
tipicamente, em sociopatas portadores de distúrbio de personalidade
dissocial, alterações no funcionamento da região cortical anterior do
cérebro, área envolvida no controle racional de comportamentos
impulsivos, como a agressividade. Também são típicas as assimetrias
funcionais nos núcleos da base do cérebro, envolvidos no controle do
comportamento voluntário e da cognição, assim como em regiões mais
superiores, anatomicamente, do sistema límbico, envolvido nas emoções.
Em até 1/3 a metade dos casos, são
observadas, mesmo, lesões anatômicas em uma ou mais dessas regiões,
evidenciadas na ressonância magnética nuclear convencional e/ou na
simples tomografia computadorizada do cérebro.
O sociopata não é uma pessoa
absolutamente insensível, mas sensível apenas a seus próprios
sentimentos, desejos e necessidades, como se não enxergasse, no outro,
um ser humano, a quem deveria alguma consideração e respeito
intrínsecos. Os meios (e as pessoas) utilizadas para atingir seus
objetivos parecem-lhe pouco importantes. Não têm noção de ética.
Por outro lado, consegue simular, perfeitamente, uma pretensa emoção, sentimento por outras pessoas, quando assim lhe convém.
O distúrbio de personalidade dissocial
não tem tratamento. Os portadores nem, sequer, sofrem com seu distúrbio,
mas causam imenso e profundo transtorno às outras pessoas. Há,
freqüentemente, necessidade, mais ou menos imperiosa, de serem afastados
do convívio da sociedade (cadeia ou manicômio judiciário), para bem
desta.
Filhos de sociopatas são suas maiores
vítimas, condenados a uma vida de sofrimento, violência, privação e
punição injustificada e continuada, ao mesmo tempo em que esses pais
sociopatas são capazes de exibir, para a sociedade, uma perfeita mas
falsa imagem de pais dedicados e zelosos para com seus filhos, uma falsa
imagem de "bons cidadãos", de cidadãos pacatos .
O sociopata leva uma vida dupla: mantém
uma aparência e atividades cotidianas normais, mas essa imagem não
corresponde à sua realidade íntima, anormal, doentia, que só é revelada a
suas vítimas, quando estão indefesas.
Características do comportamento de sociopatas:
1) Atitudes impulsivas, incontroláveis;
2) Frieza, insensibilidade com relação às outras pessoas (ausência de piedade, compaixão e altruísmo); 3) Ausência de valores morais ("éticos"); 4) Agem como se estivessem acima das leis e da sociedade; 5) Ausência de sentimento de culpa ou remorso; 6) Covardia (só praticam o delito com a certeza de a vítima não poder reagir); 7) Freqüentemente, age por motivação sexual; 8) Suas atitudes seguem uma lógica própria; 9) Obtém prazer através da violência; 10) Inteligência normal ou acima da média; 11) Ausência de delírio e alucinação; 12) Conhecem e usam com habilidade as brechas da Lei; 13) Mitomania (grande habilidade para mentir, forjar situações, convencer pessoas a acreditar no que não é verdadeiro); 14) Manipulação (habilidade de induzir as pessoas a fazer o que o sociopata quer, através da mentira, insinuação, produção de falsas "provas", sedução, intimidação, ameaça, violência). |
Comentários