DEPRESSÃO ALTERA RELÓGIO BIOLÓGICO EM NIVEL CELULAR
Saúde mental
Depressão altera relógio biológico em nível celular
Pesquisa aponta que cérebro de pessoas deprimidas não consegue acompanhar o ritmo biológico natural do ambiente, e acabam trocando seu funcionamento do modo 'noite' por 'dia' — e vice-versa
A depressão é uma doença tratável que afeta o estado de humor da pessoa
(Thinkstock)
CONHEÇA A PESQUISAA descoberta, feita por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, analisou uma grande quantidade de dados recolhidos de cérebros doados por pessoas com e sem depressão. Em um cérebro normal, o padrão de atividade genética em um determinado momento do dia é tão distinto, que foi possível estimar com precisão a hora da morte do doador do cérebro. Por outro lado, em pacientes gravemente deprimidos, o ciclo circadiano se encontrava tão perturbado que o padrão "dia" das atividades podia se parecer com o padrão "noite" — e vice-versa.
Título original: Circadian patterns of gene expression in the human brain and disruption in major depressive disorder
Onde foi divulgada: periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)
Quem fez: Jun Z. Li e equipe
Instituição: Universidade de Michigan, EUA
Dados de amostragem: 55 cérebros de pessoas que não tinham depressão e 34 cérebros de pessoas com depressão
Resultado: Descobriu-se que o funcionamento genético do cérebro estava comprometido em pacientes com depressão. Essa alteração no funcionamento leva ao desregulamento do ciclo circadiano — o organismo funciona como se fosse dia, durante a noite, e vice-versa.
Pesquisa — Para o estudo, foram usados cérebros doados logo após a morte, junto com uma extensa lista de informações clínicas sobre o paciente. Diversas regiões foram dissecadas manualmente ou com o uso de laser (capazes de capturar tipos mais especializados de células). Esses materiais foram, então, analisados para medir a atividade genética.
Segundo Jun Li, coordenador do estudo e professor assistente do Departamento de Genética Humana da Universidade de Michigan, isso permitiu à equipe prever em qual hora do dia cada paciente que não tinha depressão havia morrido. Para isso, foram observados 12.000 genes isolados, de seis regiões de 55 cérebros. A análise proporcionou uma compreensão detalhadas de como a atividade do gene variava ao longo do dia.
Saiba mais
CICLO CIRCADIANOConsiste no período de 24 horas em que se baseia o funcionamento do ciclo biológico. Ele é influenciado por fatores como iluminação solar, temperatura e, acredita-se, até mesmo a maré. Esse ciclo regula desde o funcionamento orgânico do corpo, como apetite, digestão e sono, até o funcionamento de ritmos psicológicos, como o humor.
De acordo com Huda Akil, diretora do Instituto de Neurociência Molecular e Comportamental da Universidade de Michigan, centenas de genes sensíveis ao ciclo circadiano emergiram da pesquisa. "Encontramos não apenas aqueles genes primários, que haviam sido estudados em animais ou em células laboratoriais, mas também outros genes cuja atividade aumenta e cai ao longo do dia", diz.
Futuro — O próximo passo, segundo Huda Akil, é usar a nova informação para ajudar a encontrar novas maneiras de prever a depressão, encontrar tratamentos mais específicos para cada paciente e até mesmo desenvolver novos medicamentos. Uma possibilidade, por exemplo, seria encontrar novos marcadores biológicos para a depressão (moléculas que podem ser identificadas pelo sangue, pele ou cabelo).
Os cientistas precisam ainda determinar por que o ciclo circadiano é alterado durante a depressão. "Podemos apenas imaginar que essa alteração tenha mais de uma causa. Precisamos aprender mais sobre a natureza do ciclo, e por que ele é afetado. Assim, poderemos pensar em consertar o ciclo de uma pessoa, a ajudando a melhorar da depressão", diz Huda.
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