OBSIDADE E DEPRESSÃO.

Obesidade e depressão

Obesidade e depressão - Come muito por que está triste ou...
...fica triste por que come demais? Essa pergunta tem intrigado cientistas. Estudos recentes indicam que há uma estreita relação entre a depressão e a obesidade. Um mal pode levar ao outro - e vice-versa
por Igor Paulin | ilustração Ricardo Cammarota
A depressão está na balança e, parece, bem acima do peso. A obesidade foi parar no divã e os quilos a mais estão recheados de tristeza e abatimento. E os médicos das mais diversas especialidades concordam: uma doença está fortemente associada à outra. Aproximadamente 30% das pessoas que procuram tratamento para emagrecer apresentam depressão, diz Anete Abdo, endocrinologista do Projeto de Atendimento ao Obeso, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em comparação com os magros, quem sofre com o excesso de peso tem até três vezes mais risco de, em alguma fase da vida, ficar deprimido. É uma via de dois rumos, salienta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Instituto de Psiquiatria, também do HC paulistano. Segundo ela, esse problema emocional pode ter como sintoma o aumento do apetite e, até mesmo, incontroláveis compulsões por comida. São as chamadas farras alimentares, episódios em que o indivíduo come à beça, depois se arrepende e fica com baixa auto-estima, explica o psiquiatra Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo.

No Hospital São Vicente de Paulo, no Distrito Federal, de 300 pessoas que sofrem com a depressão e são tratadas com antidepressivos, 186 estão com a barriga saliente, com gordura de sobra. As informações são de um estudo recente da Universidade de Brasília. Esses dados não apontam como se dá a associação entre um mal e outro, mas demonstram o quanto ela é forte, diz a nutricionista Helicínia Peixoto, autora da pesquisa.

O trabalho também não avaliou se o que surgiu primeiro foi a grande circunferência abdominal ou a tristeza patológica. Entretanto, uma das hipóteses é a de que os remédios tenham impulsionado o ganho de peso algo que comprovadamente ocorre entre os mais diferentes tipos de antidepressivo. Alguns deles aumentam o apetite e outros alteram o metabolismo. Nesse caso, mesmo que o indivíduo continue comendo a mesma quantidade de calorias, ele acaba engordando, pondera Acioly Lacerda.

Rolha de poço, baleia ou simplesmente gordo é quase certo que quem teve problemas de peso durante o período escolar sofreu com apelidos nada carinhosos como esses. Na vida adulta, embora o convívio social seja mais polido e politicamente correto, o preconceito continua. O obeso não cabe na cadeira do cinema, é motivo de piada entre os amigos e está fora do padrão de beleza. Ele se sente deslocado, diz Alexandrina Meleiro. Aí é que aparece o risco de desenvolver males do trato emocional. A pessoa fica insatisfeita com a própria imagem e tem vergonha de ir à praia, exemplifica a psicóloga Mara Lofrano, do Grupo de Estudos da Obesidade (GEO) da Universidade Federal de São Paulo.
A apatia, a sonolência, as dores no corpo, o desânimo e a fadiga, muitas vezes já existentes em decorrência do acúmulo de gordura no corpo, tornam-se mais freqüentes e são absorvidos como características de personalidade pelo próprio indivíduo. Pronto, a depressão pode estar instalada. O aparecimento dessa doença é mais comum em jovens e mulheres com obesidade severa, o tipo mais grave do problema, nota Anete Abdo. A combinação é explosiva: torna o tratamento ainda mais difícil e intensifica a gravidade de ambos os males.

Surge, a partir daí, uma espécie de ciclo gorduroso. A pessoa come para compensar a tristeza e, simultaneamente, a prostração gera mais barriga. Internamente, no organismo, a depressão aumenta a circulação do cortisol. Essa substância, que também é conhecida por hormônio do estresse, pode induzir ao acúmulo de células de gordura na região abdominal. Além disso, a melancolia profunda reduz a produção de outros dois hormônios, a serotonina e a noradrenalina. O resultado dessa disfunção é aquela vontade louca de comer carboidratos isto é, doces, pães e massas.

Nesse jogo de cartas marcadas, quem pode dar o ar da graça é a síndrome metabólica, um transtorno que combina o excesso de peso com doenças do coração e a resistência à insulina distúrbio que precede o diabete tipo 2. "A associação entre problemas mentais e a síndrome é bem freqüente", ratifica Anete. Para liquidar com todos esses males e evitar que se agravem, é preciso contar com um time de especialistas. "É um combate multidisciplinar, que envolve psicólogos, nutricionistas e muita atividade física", conta o endocrinologista Lian Tock, do GEO. Seria o jeito de descartar ambas as doenças em uma só jogada. "Tratar a depressão melhora a adesão e os resultados do tratamento da obesidade", afirma Anete.

Vale lembrar que muitos antidepressivos levam ao aumento de peso e do apetite. Então, antes de se encher de cápsulas para mandar a tristeza embora, é bom conversar com o médico para averigüar as opções que não vão empurrar os quilos lá para cima. Exercício físico, aliás, é fundamental. Ele eleva o gasto energético e melhora o humor, diz Anete. Aí, depressão e obesidade se transformam em cartas fora do baralho.

Você come muito por que está deprimido?
Cerca de 40% dos obesos têm o transtorno do comer compulsivo, o famoso comer até passar mal. Desse total, 3/4 deles têm, tiveram ou vão ter depressão.

Você fica deprimido por que come muito?
Substâncias liberadas em excesso pelo organismo de quem tem depressão, como o glucagon, um hormônio que aumenta a taxa de açúcar no sangue, levam à obesidade abdominal.

Cirurgia bariátrica pode ajudar
A cirurgia bariátrica, que corta parte do aparelho digestivo, é a saída em alguns casos de obesidade severa. Ela prolonga a expectativa de vida em até 15 anos, diz o cirurgião José Pareja, professor da Universidade de Campinas, no interior de São Paulo.

Mas, segundo pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, entre os operados há um alto índice de suicídios. Eles analisaram mais de 16 mil obesos que passaram pelo bisturi. Desses, 16 se mataram, uma taxa cinco vezes maior que a considerada normal para os americanos. É preciso fazer um acompanhamento psicológico antes e depois da cirurgia. Afinal, a pessoa perde sua principal fonte de prazer: comer, nota a psiquiatra Alexandrina Meleiro. Um terço dos operados entra em forte depressão.

Câncer e emoções
Nas últimas décadas, inúmeros estudos apontaram ainda que as emoções têm relação com os índices de tumores de mama. Estados depressivos, por exemplo, podem alterar o comportamento dos glóbulos de defesa do nosso sangue, que, entre outras atividades, são responsáveis por impedir a proliferação de células que sofreram mutações, o estopim dos tumores.

E você sabe: emoção e obesidade também têm uma estreita relação. Veja-se o caso da aposentada Irica Wagner Duarte, de 55 anos, uma das participantes do Projeto Mama. Ela chegou a pesar 136 quilos, mas perdeu 9,5 deles no período de um ano. "Pretendo chegar aos 90", conta. "Antes, eu andava muito depressiva, só pensava em sumir. Minha auto-estima com o emagrecimento aumentou." O que ela busca, agora, é completar um círculo virtuoso: ficar mais leve para se manter mais alegre e... comer menos ainda. Tudo isso, junto, pode diminuir a probabilidade do câncer.

Queime calorias com dieta equilibrada e exercício
O que fornece energia ao organismo são os macronutrientes, diz a nutricionista Mariana Del Bosco, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Ela se refere a três tipos de moléculas contidas nos alimentos proteína, lipídio e carboidrato que fornecem quantidades diferentes do combustível. Basta 1 grama de gordura para render 9 kcal. Já as mesmas porções de proteína e de carboidrato fornecem 4 kcal cada uma.

Uma dieta saudável, segundo a OMS, tem aproximadamente 55% de carboidrato, no máximo 30% de gordura e pelo menos 15% de proteína. As células queimam primeiro os açúcares obtidos do carboidrato e, depois, os da gordura, ensina o fisioendocrinologista Fábio Bessa Lima, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

Para eliminar a abundância de energia em forma de pneuzinhos, basta inverter o tal balanço energético. Ele tem que ser negativo, caso contrário não se consegue queimar as gorduras, diz Mariana Del Bosco. Traçando outro paralelo com a linguagem dos economistas, para trocar o sinal desse balanço é preciso transformar o superávit em déficit, isto é, passar a gastar um pouco mais de energia do que aquela que se consome.

Em média, deixar de ingerir diariamente 600 quilocalorias significa mandar embora meio quilo por semana, salienta Mariana. E é bom ressaltar, ainda, que 75% dos gramas perdidos são gordura e o restante é massa magra. Isso quer dizer que, por mais que seu objetivo seja perder apenas as sobras, um pouco da musculatura também vai embora. Por isso é que não adianta só fechar a boca. É preciso se mexer para compensar. A principal forma de equilibrar o balanço ou deixá-lo negativo de um modo saudável é fazer exercício físico, afirma Cassiano Merussi Neiva.

Você mesmo pode calcular seu gasto calórico. Em uma corrida, por exemplo, basta multiplicar o seu peso pela distância percorrida. Se você está com 70 quilos e acabou de atravessar 4 quilômetros no parque, consumiu 280 kcal. Mas não leve essa equação tão a sério. Embora ela também seja usada nas esteiras e nas bicicletas ergométricas, no fundo o gasto energético difere de pessoa para pessoa.Quem tem o metabolismo mais lento queima menos calorias do que isso. Outro item a ser levado em conta é o condicionamento físico. O corpo de quem já está acostumado a realizar aquela atividade é mais econômico, isto é, despende menos energia para fazê-la, conta Cassiano.

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