NOVA ESPERANÇA CONTRA A DEPRESSÃO
Novas esperanças contra a Depressão(FONTE VIDA E CONCEITO)
A cetamia,
usada desde a década de 60 como anestésico, revela-se um potente
antidepressivo e abre uma linha inédita de estudos sobre a doença que
afeta 36,8 milhões no Brasil e está sempre associada a outros problemas.
O psiquiatra
americano Carlos Zarate, chefe do programa de terapias experimentais
para transtornos de humor e ansiedade do Instituto Nacional de Saúde
Mental dos Estados Unidos, começou a acompanhar um advogado de 40 anos
quando o paciente já estava mergulhado na depressão. O encontro com o
"demônio do meio-dia" - na bela e incômoda definição autobiográfica do
escritor Andrew Solomon, autor de um pequeno clássico sobre o tema, de
2001 - tivera início dez anos antes. Com o avanço da doença, o jovem
bem-sucedido afastava-se silenciosamente dos amigos e da família. Deixou
de trabalhar. Trancou-se no quarto, isolando-se de tudo e de todos.
Durante um longo período, a comunicação entre ele e a mulher e os filhos
acontecia apenas por meio de bilhetes colocados debaixo da porta:
"Papai, sinto sua falta. Amo você", Os banhos tornaram-se esporádicos e o
barbear foi abandonado. Ele se alimentava de comida fria, sem se
importar. Pensou em suicídio diversas vezes. Como acontece com muitos
doentes, o advogado não respondeu a nenhum dos tratamentos disponíveis
atualmente - dos antidepressivos às terapias mais agressivas, como o
eletrochoque.
Só o tirou da
letargia atavicamente associada à depressão um remédio ainda
experimental - a cetamina, usada como anestésico em pequenas cirurgias
de seres humanos e também de animais. "Voltei a vê-lo logo depois da
medicação e ele era outra pessoa, estava barbeado, disposto e fazia
planos para o futuro".
Na recente
definição de um artigo na prestigiada revista cientifica Sciense, a
cetamina é "indiscutivelmente a descoberta mais decisiva para o
tratamento da depressão em meio século". Desde de 2004, Zarate já tratou
pelo menos 120 pacientes com o medicamento.
A mais comum
das doenças psiquiátricas, a depressão atinge quase 20% da população
mundial - o equivalente a 1,4 bilhão de pessoas, das quais 38,8 milhões
no Brasil. Apesar de todas as conquistas médicas, entre 30% e 40% dos
pacientes não encontraram alívio algum com os recursos terapêuticos
desenvolvidos até hoje. A cetamina é uma luz nessa escuridão
probabilística. Aperfeiçoada na década de 60 para atendimento aos
soldados americanos durante a Guerra do Vietinã, a cetamina foi usada,
nos anos 90, como um alucinógeno (ilícito, ressalve-se) de adeptos do
movimento clubber, gente que varava a madrugada em casas noturnas
movimentando-se no bate-bate do ritmo tecno. O modismo químico passou -
dele restaram pessoas devastadas e o conhecimento das engrenagens
metabólicas da droga. Líquida em sua forma comercial, como
antidepressivo, a cetamina começa a fazer efeito cerca de quarenta
minuto depois de sua aplicação.
Além das
pesquisas para desenvolvimento de novos antidepressivos, das quais a
cetamina é a grande estrela, outra área de estudos promissores é a que
busca marcadores biológicos capazes de determinar a terapia mais
adequada a cada paciente. Há desde diferenças na anatomia cerebral, que
podem ser detectadas por meio de exames de imagem, até o modo como o
cérebro reage a determinados estímulos.
A psiquiatra
Maria Oquendo, diretora da divisão de studos clínicos de imagem
molecular e neuropatologia da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos.
"Mas estamos diante de uma doença tão complexa que mais provável é que
tenhamos de recorrer a uma combinação de marcadores para determinar a
resposta de um paciente a determinado tratamento." A expectativa é que
em dez anos esses conhecimentos possam ser usados na prática clínica.
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